Vendedor de amendoim

Rio Grande/RS.

Foto: Miguel

Em fluxos de progressos irrefletidos, as cidades do sul gaúcho seguem, ao menos no contexto estadual, dando um banho no modo jeitoso e sem alarde de guardar o tempo que se move. Aqui não cabem enganosos índices de desenvolvimento nem discursos sobre sei-lá-o-quê. Pois, além de real, é mais do que bastante o amendoim tão quentinho quanto devia ser na infância de meus pais.

As bolas

Pra falar a verdade, a postagem sobre as célebres "bolas" da região da Trindade em Florianópolis era pra ser o ponta pé inicial deste blog. No já quase esmaecido 2006, em uma de suas vindas para a Ilha de Santa Catarina, o Antônio Augusto fez uma "pesquisa de campo fotográfica" tendo por base aquilo que na época considerávamos um fenômeno peculiar desta cidade: lanchonetes em forma esférica e feitas de fibra de vidro dominavam o cenário dos bairros próximos à UFSC. Pareciam ter sido criadas pela imaginação de algum desenhista inspirado em aventuras espaciais.

Aí acima aparecem duas imagens de uma mesma "bola", na rua Lauro Linhares, "artéria" principal do bairro Trindade. Essa rua, diga-se brevemente, é o escoadouro viário cada vez mais apinhado de automóveis por onde eu tento caminhar todos os dias. Há oito anos, quando eu vim para cá, seu ar de precariedade ainda mantinha o charme característico de uma cidade praiana, despojada e muito menos neurótica e autômata em comparação com a maioria das capitais brasileiras da época. A aura das pessoas que aqui viviam então me parecia mais livre, crítica e arejada. Hoje, a rua e seus arredores permanecem precários, mas o número de carros e edificações criminosamente altas multiplicou. Assim como a fisionomia e postura dos indivíduos que por aqui circulam adquiriram um tom mais alheio.

As "bolas", no entanto, continuam as mesmas de sempre. Vamos lá fazer um lanche?

Cidades visíveis, lugares imaginários

Pinheiro Machado, Rio Grande do Sul.

Foto de Rodrigo dMart.

http://www.flickr.com/photos/rodrigo_dmart/

andar em 2010

Só pra dizer que eu continuo acreditando nas benesses da passagem do tempo.

O envelhecimento pode ser cruel, sem dúvida. Mas será que não há outras possibilidades menos patéticas à escolha? Paul Newman, a título de exemplo, atuou durante mais de cinquenta anos no cinema, até o fim, sem perder o pique. Grande Paul... Outro Paul é o nosso Paulo Autran.

2009 foi um ano de enormes aprendizados pra mim. Andei e reandei por vários lugares cujas paisagens muito me transmitiram. Pessoas, olhares, conversas e silêncios que guardo na memória como verdadeiros tesouros.

Agora é deixar que o fluxo do tempo nos mostre o caminho. E que o tempo e o espaço nos sejam generosos e cheios de boas novidades.

Da Amizade

Ir para a serra gaúcha costumava ter fumaças daquele glamour mirado em latitudes mais frias e pretensamente nobres. O mesmo ocorreu nas grandes altitudes do relevo paulista e fluminense. Hoje, em tempos de turismo massificado à la CVC, o Brasil da era Lula se transformou no paraíso dos olhos repletos de cifrão e dos rebanhos humanos afluentes capazes de se engalfinhar por qualquer ouro de tolo. Criam-se atrações turísticas como se dá um traque.

Pois enquanto estivemos por lá acabamos procurando evitar a loucura mercadista que faz o lucro imediato daqueles empreendedores típicos de um capitalismo sem alma e visão de futuro. O que conta para eles é o amealhado no caixa do agora! Pra nós, o descanso e a boa companhia sempre foram o bastante.

Ainda bem que, ao contrário do despreparo e arrogância da maior parte do comércio local, tivemos a sorte de encontrar boa conversa e cerveja eternamente gelada no Bar da Amizade.

Aqui, então, vai meu abraço afetuoso a todos os seus frequentadores e casal de proprietários com quem tive o prazer de conviver durante os cinco dias que passamos em Gramado. Por último, mas não com menor importância, quero dizer que a minha mãe (com quem apareço em uma das fotos) e o Antônio Augusto também fizeram gosto do Da Amizade!