Tuesday, April 28, 2009

O inferno são os outros

A frase acima, supostamente enunciada por Sartre, ainda é uma das melhores pra descrever a perplexidade perante a sensação de pesadelo cada vez mais frequente no convívio humano.

Triste falar sobre isso num espaço que modestamente se propõe a chamar a atenção frente às pequenas coisas belas ainda capazes de serem encontradas no mundo moderno e urbano.

Entretanto, mesmo que este escrevinhador não tenha de todo abdicado de certas esperanças e singelos prazeres, é incapaz de evitar o abatimento diante de um mundo social cada vez mais grosseiro e hostil.

Não são só os assaltos e crimes que aumentam vertiginosamente enquanto a segurança pública faz vista grossa para não precisar admitir que a sua função nunca foi garantir a paz coletiva, mas simplesmente impor ostensivamente o poder institucionalizado.
Antes do aumento da criminalidade está a perda evidente da capacidade das pessoas em estabelecer entre si a mínima cordialidade. Saímos de casa e ao dirigirmos nossos carros somos alvo da impaciência estúpida das buzinas histéricas e apressadas. Caminhamos em calçadas esburacadas em meio a uma multidão acéfala orientada como autômatos por mandamentos da mais prosaica racionalidade.
Mas se engana quem julgar que acéfalos são apenas os indíviduos pertencentes à massa ignara. Piores são os pequenos burgueses, educados em finos colégios e boas universidades, os quais, na hora de pesarem as conveniências, jogam todo o verniz civilizatório para o alto, em troca de mais alguns trocados.
Respeito pra muita gente já virou prática morta. Poucos são os que ainda sorriem por simpatia desinteressada. Vivemos sob a égide da seguinte ética: cada um há de se AFIRMAR FRENTE AO OUTRO para garantir o seu quinhão. Encantamento e contemplação, então, são puras e inúteis bobagens. Será?