Friday, March 26, 2010

Porto Alegre aos 238 anos

Porto Alegre açoriana,
Porto Alegre gaúcha, negra, brasileira e germânica,
Porto Alegre da minha infância e de hoje,
das ruas arborizadas e dos crepúsculos que me fazem remeter a outras paisagens,
desde quando, ao voltar da escola, olhava absorto o céu e a urbe ao redor.
Porto Alegre platina e distante demais das capitais.
Porto Alegre do tango, do samba e do punk do Bom Fim.
Porto Alegre roqueira.
Porto Alegre nua de fotografias.
Dos poetas urbanos.
Dos almas ricas e anônimas.
Dos pipoqueiros e engraxates.
Dos vendedores de incenso e amendoim.
Dos botecos que já não existem mais.
Dos sebos e dos becos.
Das igrejas que me davam medo de entrar na primeira meninice.

O rio Guaíba e os morros.

O porto e os parques.

Os colégios públicos e seus pátios de recreios vespertinos.

Às moscas nos feriados carnavalescos.

A cidade e suas gírias.

Espaço humano que já aponta transições de brasilidades com sul-americanismos.

Desagradavelmente provinciana e no entanto capaz de certa vanguarda - quando os deuses do tempo conspiram a favor.
Dos lugares da moda e das celebridades do momento.
Cidade pretensiosa e dos nomes de famílias reacionárias,
e dos grupos econômicos, políticos e midiáticos que investem pesado no atraso espiritual.
Metrópole nacional tensa, incerta e melancólica.
Cidade das lombas,
das escadarias,
das antigas galerias e das estreitas passagens.
Do cachorro-quente do Rosário e do bauru do antigo Trianon.
Dos edifícios antigos do Centro e da Independência.

Os muros da cidade.

Os hippies de antigamente.

Porto Alegre das ruas pelas quais ainda não passei ou já me esqueci.
E também das calçadas que desde o início acolhem meu passo.
Porto Alegre diminuída pela falta de imaginação e sentido histórico.
Mas que ainda guarda em si a promessa de uma miríade densa de vivacidades urbanas. Será? Espero que sim.
Porto Alegre onde vivi três quartos da minha vida e de onde, de certo modo, nunca saí.
E para onde, não importa o meu destino ou a sua sorte, ainda assim, sempre voltarei.