Moro em Florianópolis e desde quando vim para cá, em 2002, precisei me conformar a uma cidade bem menos sortida no que diz respeito a ofertas de salas de cinema do que Porto Alegre. Claro que mesmo antes disso a hegemonia dos "caixotes" de shopping centers já era praticamente absoluta. E o meu hábito de ir ao cinema, costume que exerço de modo mais ou menos frequente desde quando era levado pelo meu pai a partir dos cinco anos de idade, já vinha testemunhando diversos ciclos. Todos eles, no entanto, têm apontado para um único e aparentemente contraditório sentido: a um só tempo, portanto, elitiza-se e pauperiza-se um entretenimento tipicamente popular.
Ocorre que nesses últimos sete ou oito anos a situação apenas fez piorar - tanto cá quanto lá; só que aqui o cenário nunca foi abonador. Os ingressos ficaram muito mais caros (R$16,00!), e a qualidade da programação, embora o número de "caixotes" (nomeados injustamente de "salas") tenha aumentado, se reduziu a uma faixa de títulos em que pancadarias, explosões, roteiros apelativos, previsíveis, repetitivos e outras bestialidades garantem a rigorosa margem de lucro exigida por aqueles poucos que controlam o mercado de distribuição e exibição cinematográfica. Além disso, quando o filme é bom - podemos ter a prévia certeza -, ficará um tempo demasiado insuficiente em cartaz.
Como atualmente o CIC (espaço cultural da cidade aonde costumávamos ir para experimentarmos a sensação de cinema) está fechado para reformas por tempo indeterminado, não nos resta outra atitude senão a de tolerar os "Multiplex" da vida...
Pois ontem, aceitando o convite de um amigo que há algum tempo não via, fui até o "tijolão do mangue" assistir ao último filme do Tarantino. E daí, após o tempo da fila limitada por aqueles cercadinhos que se parecem com os joguinhos de labirinto que fazíamos quando crianças, e, logo mais, ser instado a "escolher" de antemão a fila e o número de minha poltrona, tive que aguentar quinze minutos de trailers, os quais, na verdade, eram propagandas semelhantes às que presenciamos na televisão.
Em meio aos anúncios das "nonagésimas" continuações de um filme americano repulsivo qualquer, ainda somos persuadidos a comprar a revistinha em que aparecem fotos e textos alusivos aos atores da película!!
Se ainda levarmos em consideração o fato segundo o qual invariavelmente haverá pessoas sem educação e despidas de paciência sentadas perto de você, falando, vendo as horas, ou escrevendo mensagens no celular, só podemos recomendar a nós próprios pensar mil vezes antes de decidir fazer um programa como esse.
Como ainda não cheguei ao fim, devo dizer que grande parte das projeções hoje disponíveis nos cinemas não provêm mais de rolos, mas de meras cópias digitais com qualidade de DVD - os mesmos que alugamos ou compramos para ver em casa!
Ou seja, pagamos caro para consumirmos bens culturais de qualidade pra lá de duvidosa.
E o filme? "Bastardos Inglórios", embora plasticamente bem construído, e cheio de diálogos cômicos e articulados, reflete para mim essa mesma atitude cínica diante do mundo que tanta gente adota pensando, logo adiante, em um maior sucesso de bilheteria.