Wednesday, October 28, 2009

série personagens urbanos (introdução)

Há situações em que me vejo imerso em cenas de cinema vivo e real. De repente estou ali, bem diante de um personagem rico em bagagem de ações e gestos característicos que remontam para bastante aquém de nosso tempo. Pessoas e funções muito dignas e interessantes. Verdadeiros repositórios individuais que - cada qual à sua maneira - recriam uma tradição urbana sempre em xeque. Garçons, pipoqueiros, lixeiros, certo tipo de porteiro, afiadores de faca, sapateiros, engraxates, carteiros... Algumas dessas atividades já estão seriamente ameaçadas de extinção. Alguém, por exemplo e acaso, tem visto os bilheteiros quando vai ao cinema? Ora bolas. Não vale exercer o ofício por si só. Tem que "vestir a camiseta" pra honrar a profissão. Garçons por aí há aos magotes, poucos porém merecem a alcunha. Mas deixemos essas discussões para os próximos capítulos...
Queremos, ao inaugurar a série, falar um pouquinho mais de perto sobre essas figuras que desde criança nos convidam a ver a cidade como lugar aberto ao intrigante e ao inusitado. Até mesmo quando o fabuloso se disfarça no que há de mais simples e corriqueiro possível - e, diga-se de passagem, na maior parte das vezes é assim.
A cidade, pois, como palco para a vida interessante acontecer.
PS: quem tiver sugestões não se deixe vencer pela preguiça ou timidez!

Monday, October 19, 2009

Passarela


Muito caminhei por esta passarela... Sozinho e acompanhado. Voltando do colégio, com a mochila pesada sobre as costas e sob o calor do meio-dia, que mesmo no alto inverno, por causa do agasalho reforçado para o cedo gélido da manhã, nos fazia suar.
Por ela me recordo de caminhar conversando animadamente com tantas pessoas... O Antônio Augusto e seus colegas da oitava série do Uruguai (enquanto eu ainda estava na terceira...), o Martin, Gustavo, Alexandre, Lúcia, Ana Carolina, Jupob, Paulo Marcelo, José Ricardo... Depois, já do segundo-grau em diante, atravessei com mais outras tantas companhias de gratas lembranças.
Mesmo hoje em dia, quando viajo de volta a Porto Alegre, ainda que fique apenas o tempo ligeiro de um final de semana, é rara a vez em que esqueço de lá passar e, pensativo, por ela me demorar.
Foto de Antônio Augusto

Sunday, October 18, 2009

cinema contemporâneo

Moro em Florianópolis e desde quando vim para cá, em 2002, precisei me conformar a uma cidade bem menos sortida no que diz respeito a ofertas de salas de cinema do que Porto Alegre. Claro que mesmo antes disso a hegemonia dos "caixotes" de shopping centers já era praticamente absoluta. E o meu hábito de ir ao cinema, costume que exerço de modo mais ou menos frequente desde quando era levado pelo meu pai a partir dos cinco anos de idade, já vinha testemunhando diversos ciclos. Todos eles, no entanto, têm apontado para um único e aparentemente contraditório sentido: a um só tempo, portanto, elitiza-se e pauperiza-se um entretenimento tipicamente popular.

Ocorre que nesses últimos sete ou oito anos a situação apenas fez piorar - tanto cá quanto lá; só que aqui o cenário nunca foi abonador. Os ingressos ficaram muito mais caros (R$16,00!), e a qualidade da programação, embora o número de "caixotes" (nomeados injustamente de "salas") tenha aumentado, se reduziu a uma faixa de títulos em que pancadarias, explosões, roteiros apelativos, previsíveis, repetitivos e outras bestialidades garantem a rigorosa margem de lucro exigida por aqueles poucos que controlam o mercado de distribuição e exibição cinematográfica. Além disso, quando o filme é bom - podemos ter a prévia certeza -, ficará um tempo demasiado insuficiente em cartaz.

Como atualmente o CIC (espaço cultural da cidade aonde costumávamos ir para experimentarmos a sensação de cinema) está fechado para reformas por tempo indeterminado, não nos resta outra atitude senão a de tolerar os "Multiplex" da vida...
Pois ontem, aceitando o convite de um amigo que há algum tempo não via, fui até o "tijolão do mangue" assistir ao último filme do Tarantino. E daí, após o tempo da fila limitada por aqueles cercadinhos que se parecem com os joguinhos de labirinto que fazíamos quando crianças, e, logo mais, ser instado a "escolher" de antemão a fila e o número de minha poltrona, tive que aguentar quinze minutos de trailers, os quais, na verdade, eram propagandas semelhantes às que presenciamos na televisão.
Em meio aos anúncios das "nonagésimas" continuações de um filme americano repulsivo qualquer, ainda somos persuadidos a comprar a revistinha em que aparecem fotos e textos alusivos aos atores da película!!
Se ainda levarmos em consideração o fato segundo o qual invariavelmente haverá pessoas sem educação e despidas de paciência sentadas perto de você, falando, vendo as horas, ou escrevendo mensagens no celular, só podemos recomendar a nós próprios pensar mil vezes antes de decidir fazer um programa como esse.
Como ainda não cheguei ao fim, devo dizer que grande parte das projeções hoje disponíveis nos cinemas não provêm mais de rolos, mas de meras cópias digitais com qualidade de DVD - os mesmos que alugamos ou compramos para ver em casa!
Ou seja, pagamos caro para consumirmos bens culturais de qualidade pra lá de duvidosa.
E o filme? "Bastardos Inglórios", embora plasticamente bem construído, e cheio de diálogos cômicos e articulados, reflete para mim essa mesma atitude cínica diante do mundo que tanta gente adota pensando, logo adiante, em um maior sucesso de bilheteria.

Wednesday, October 07, 2009

efeitos de um temporal


Segunda-feira, anteontem, foi daqueles dias em que a natureza mostra as suas garras para o homem. O Antônio Augusto ao caminhar de tardezinha pela Duque de Caxias, flagrou a queda de uma árvore em tempo real (veja a foto) para logo depois ouvir os comentários assustados das pessoas que cruzavam seu caminho: "Nunca tinha visto um temporal como este!".

Eu, de minha parte, embora more numa ilha com maior propensão a ciclones extratropicais e outros perigosos fenômenos metereológicos do gênero, apenas dormi mais sossegado com o barulhinho gostoso da chuva que atrás de si deixara um rastro de temor e destruição.

Sunday, October 04, 2009

universo brasileiro

Existem pessoas que viajam e pessoas que permanecem. Sempre foi assim, embora hoje em dia haja uma espécie de consenso segundo o qual a vida estaria sempre aonde nós ainda não chegamos. Gosto muito da curiosidade geográfica e cultural e quero muito viajar e viver por aí. Mas ao atentarmos a outras maneiras, tão interessantes quanto, de se fazer a vida, poderíamos tranquilamente dizer que não é preciso sair do Brasil para se conhecer o mundo. E se fôssemos por acaso gregos, mexicanos ou argelinos, o mesmo haveria de ser válido.

Thursday, October 01, 2009

Latitudes

O Brasil é mais sorridente e simpático acima do trópico de capricórnio.