série personagens urbanos: o garçom
A figura do garçom induz a um olhar mais atento e cuidadoso. Trabalhador de quem se espera diversas habilidades para melhor servir, é, para além disso, uma promessa de sublimação cotidiana em cada gesto de delicadeza e solicitude - e esta opinião independe do tipo de local ou público em que ele venha a exercer seu ofício: vale desde as (aparentemente) mais modestas até as (pretensamente) mais sofisticadas clientelas.
Imagino o garçom como alguém que está ali com seus olhos a penetrar o universo social ao redor para em seguida lhe oferecer a reação mais adequada - entre elas, amiúde, a própria e falsa inércia. As manifestações e aguardos das pessoas sentadas à mesa, seus olhares e estados de espírito, aflições e mudanças abruptas de caráter: todo o teatro humano e sua mise-en-scène vem solicitar ao nosso protagonista intervenções as mais várias e improvisadas para que, ao final, sobressaia o sentimento de que tudo ocorreu da maneira mais espontânea e "irretocável".
É claro que aqui me refiro a um certo tipo ideal (mas real) de garçom em situações de correspondência das minhas nem tão exigentes expectativas. Mas quem se importa? A alma do garçom comporta quantos temperamentos possíveis houver. Pode até se esquecer do pedido ou trocar o recheio do ravióli. Só o discreto toque de cumplicidade é que não poderia nunca lhe faltar.