Saturday, November 28, 2009

série personagens urbanos: o garçom

A figura do garçom induz a um olhar mais atento e cuidadoso. Trabalhador de quem se espera diversas habilidades para melhor servir, é, para além disso, uma promessa de sublimação cotidiana em cada gesto de delicadeza e solicitude - e esta opinião independe do tipo de local ou público em que ele venha a exercer seu ofício: vale desde as (aparentemente) mais modestas até as (pretensamente) mais sofisticadas clientelas.
Imagino o garçom como alguém que está ali com seus olhos a penetrar o universo social ao redor para em seguida lhe oferecer a reação mais adequada - entre elas, amiúde, a própria e falsa inércia. As manifestações e aguardos das pessoas sentadas à mesa, seus olhares e estados de espírito, aflições e mudanças abruptas de caráter: todo o teatro humano e sua mise-en-scène vem solicitar ao nosso protagonista intervenções as mais várias e improvisadas para que, ao final, sobressaia o sentimento de que tudo ocorreu da maneira mais espontânea e "irretocável".
É claro que aqui me refiro a um certo tipo ideal (mas real) de garçom em situações de correspondência das minhas nem tão exigentes expectativas. Mas quem se importa? A alma do garçom comporta quantos temperamentos possíveis houver. Pode até se esquecer do pedido ou trocar o recheio do ravióli. Só o discreto toque de cumplicidade é que não poderia nunca lhe faltar.

Monday, November 16, 2009

Feira do Livro

Foto de Antônio Augusto

A Feira do Livro de Porto Alegre teve início lá nos já longínquos anos cinquenta do século passado - época em que a cidade tinha a maior editora do país e contava com quatro jornais diários (um deles vespertino) de qualidade, no mínimo, respeitável. Desde então, a Feira chegou a se consolidar como um dos mais importantes eventos literários do Brasil. Era (e ainda é) uma espécie de orgulho do povo gaúcho - mesmo daqueles muitos não tão chegados ao hábito da leitura.
Agora, no entanto, tudo indica um processo de perda de relevância da Feira cuja realização anual despontou até ontem como um dos principais pontos de encontro do povo porto-alegrense. Escritores, artistas, público leitor, pessoas comuns, transeuntes curiosos e gente de fora confluíam para seus corredores labirínticos tomados por bancas repletas de interessantes ofertas livrescas a preços na maioria das vezes atraentes.
Não é que isto tudo esteja jogado no baú do pretérito imperfeito. Bem ou mal, as bancas continuam sendo montadas a cada novembro à sombra dos jacarandás em flor. De qualquer modo, é difícil disfarçar o ar de decadência que paira sobre a Praça da Alfândega. As promoções e descontos não são mais os mesmos; tampouco há grandes novidades promovidas em um mercado restritivo progressivamente controlado por megastores da vida. O espaço improvisado debaixo de uma grande lona onde a conversa inflamada à base de muita cerveja e fritura ia desde às onze da manhã até passado da meia-noite, se tranformou em um deck limpinho e comportadinho onde a longneck custa, na mais barata das hipóteses, o dobro de uma 600 ml do boteco da esquina.
Para dar ares infelizmente mais trágicos à situação, parece que no ano passado a Feira do Livro, para acontecer, teve que enfrentar, até os 49 do segundo tempo, uma série de controvérsias politiqueiras e entraves orçamentários nos ziguezagues das administrações submetidas ao conchavo e à mentira. Quer dizer, tem algo de muito podre no reino da Dinamarca. Só não veem aqueles que ganham ou pensam ganhar com a derrocada do Rio Grande do Sul.

Wednesday, November 11, 2009

Seleção de músicas "Mangibre"

Essa coisa de falar e refletir sobre a cidade com certeza já era cantada muitíssimo antes de eu nascer.
Pois uns dos jeitos de expressão que mais me convidam a sentir a vida entre as ruas, ladeiras, casas, praças, bares e pessoas, é a canção. Por isso proponho um joguinho entre os amigos que lerem esta postagem.
Que canção faz lembrar da vida na cidade?
Vou propor algumas pra me transpor ao lugar de onde , de alguma maneira, sempre venho (não há na ordem qualquer indício de hierarquia ou predileção):
1. Penny Lane (The Beatles)
2. Mr. Tambourine Man (Bob Dylan)
3. Lígia (Tom Jobim)
4. Menino Deus (Caetano Veloso)
5. Aquele abraço (Gilberto Gil)
6. Ramilonga (Vitor Ramil)
7. Get out of town (Cole Porter)
8. Pivete (Chico Buarque)
9. Estácio, eu e você (Luiz Melodia)
10. Paisagem da Janela (Lô Borges/Fernando Brant)
As outras milhares esquecidas são pra serem lembradas por todos nós e a todo momento. Não tive nenhuma pretensão em fazer lista categorizante, normatizadora e definitiva!

Monday, November 09, 2009

Morro Santa Tereza


Foto de Antônio Augusto

Sunday, November 01, 2009

entardecer no verão

São outros azuis e lilases,
diversas luzes e olores.
Como se a estação nos propiciasse sentimentos resguardados ao longo do inverno.
Verão pra reinvenção.
Noite clara e céu aberto.
Vida que vem cheia de tempo e sem qualquer história.