Monday, November 16, 2009

Feira do Livro

Foto de Antônio Augusto

A Feira do Livro de Porto Alegre teve início lá nos já longínquos anos cinquenta do século passado - época em que a cidade tinha a maior editora do país e contava com quatro jornais diários (um deles vespertino) de qualidade, no mínimo, respeitável. Desde então, a Feira chegou a se consolidar como um dos mais importantes eventos literários do Brasil. Era (e ainda é) uma espécie de orgulho do povo gaúcho - mesmo daqueles muitos não tão chegados ao hábito da leitura.
Agora, no entanto, tudo indica um processo de perda de relevância da Feira cuja realização anual despontou até ontem como um dos principais pontos de encontro do povo porto-alegrense. Escritores, artistas, público leitor, pessoas comuns, transeuntes curiosos e gente de fora confluíam para seus corredores labirínticos tomados por bancas repletas de interessantes ofertas livrescas a preços na maioria das vezes atraentes.
Não é que isto tudo esteja jogado no baú do pretérito imperfeito. Bem ou mal, as bancas continuam sendo montadas a cada novembro à sombra dos jacarandás em flor. De qualquer modo, é difícil disfarçar o ar de decadência que paira sobre a Praça da Alfândega. As promoções e descontos não são mais os mesmos; tampouco há grandes novidades promovidas em um mercado restritivo progressivamente controlado por megastores da vida. O espaço improvisado debaixo de uma grande lona onde a conversa inflamada à base de muita cerveja e fritura ia desde às onze da manhã até passado da meia-noite, se tranformou em um deck limpinho e comportadinho onde a longneck custa, na mais barata das hipóteses, o dobro de uma 600 ml do boteco da esquina.
Para dar ares infelizmente mais trágicos à situação, parece que no ano passado a Feira do Livro, para acontecer, teve que enfrentar, até os 49 do segundo tempo, uma série de controvérsias politiqueiras e entraves orçamentários nos ziguezagues das administrações submetidas ao conchavo e à mentira. Quer dizer, tem algo de muito podre no reino da Dinamarca. Só não veem aqueles que ganham ou pensam ganhar com a derrocada do Rio Grande do Sul.

1 Comments:

Blogger Antônio Augusto Bueno said...

Lembro bem das minhas primeiras idas na Feira do Livro. Foi lá pelo final dos anos setenta e eu tinha uns seis, sete anos. Era um tempo mais simples / mais colorido / mais cheio de vida.

11/23/2009 11:30 AM  

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