Terreno baldio era o espaço liberto antes de qualquer determinação de espaço, tempo ou demarcações outras em geral. A gente gostava de pular muros com a ajuda do "pezinho" do companheiro, passar pela fresta debaixo da porta. Nosso mundo existia ao longo da tarde infinita em que tudo brotava como novidade. Jogávamos bola e queríamos espantar a todos com nosso jeito soberanamente infantil de enxergar as coisas e agir. O jogo é a vida ainda desconhecida e tudo é convite para brincar. A música produz seu tempo em discos na vitrola, fitas cassete e sucessos da FM. Músicas que hoje são clássicos históricos, como "você não soube me amar" eram ouvidas por todos os lados. E a Independência e o Bom Fim e a Floresta se enredam em confusão de um só bairro em que as ruas são feitas de casas habitadas por sentimentos próprios de uma época já distante de sensações irrepetíveis. Não recusávamos o mágico que há em tudo: na chuva, nuvens, escadarias, na diferença das atmosferas em cada andar do Edifício Independência, ao longo do cair da tarde e, principalmente, na coro entusiasmado das crianças diante do simples fato de existir e de se brincar em conjunto.
Que falta eu sinto dos terrenos baldios! Uma das memórias mais recorrentes da minha infância: os espaços abertos no meio da cidade. Tapumes e muros transpostos em busca do lugar que mais convidasse ao esconderijo e à largura de horizontes.
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Terreno baldio era o espaço liberto antes de qualquer determinação de espaço, tempo ou demarcações outras em geral. A gente gostava de pular muros com a ajuda do "pezinho" do companheiro, passar pela fresta debaixo da porta. Nosso mundo existia ao longo da tarde infinita em que tudo brotava como novidade. Jogávamos bola e queríamos espantar a todos com nosso jeito soberanamente infantil de enxergar as coisas e agir. O jogo é a vida ainda desconhecida e tudo é convite para brincar. A música produz seu tempo em discos na vitrola, fitas cassete e sucessos da FM. Músicas que hoje são clássicos históricos, como "você não soube me amar" eram ouvidas por todos os lados. E a Independência e o Bom Fim e a Floresta se enredam em confusão de um só bairro em que as ruas são feitas de casas habitadas por sentimentos próprios de uma época já distante de sensações irrepetíveis. Não recusávamos o mágico que há em tudo: na chuva, nuvens, escadarias, na diferença das atmosferas em cada andar do Edifício Independência, ao longo do cair da tarde e, principalmente, na coro entusiasmado das crianças diante do simples fato de existir e de se brincar em conjunto.
Que falta eu sinto dos terrenos baldios! Uma das memórias mais recorrentes da minha infância: os espaços abertos no meio da cidade. Tapumes e muros transpostos em busca do lugar que mais convidasse ao esconderijo e à largura de horizontes.
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