Sunday, July 22, 2012

onde a cidade pulsa

Não é no trânsito repleto de motoristas boçais, mas nos lugares menos expostos à curiosidade pré-fabricada. A cidade que se oferece ao primeiro olhar pode muitas vezes ser sem graça e hostil, além de oferecer um ar rarefeito sem vestígios de oxigenação.Não desanime. Caminhe, opte por linhas de ônibus que levem para lugares incertos, sente no banco de uma praça tranquila, converse com o homem da banca de revistas, contemple a copa de uma árvore habitada por passarinhos. A cidade dos bares da moda é pretensiosa e burra. Ali só há reprodução da pior caricatura urbana para exportação em cadernos de viagem e revistas de aviões. O bairro anunciado como nobre de uma cidade é igual em qualquer lugar: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Nessas regiões valorizadíssimas pelo mercado imobiliário, o olhar das pessoas tem o mesmo tom de esnobismo e exclusão. Rebanho metido a chique. Bastante ao contrário, a vida urbana ainda sopra nas frestas,  becos, escadarias decadentes, bairros periféricos e casas antigas. O antigo guarda muito de novidade porque é mais profundo e longevo do que todas essas supostas modernidades que já nascem para serem mortas logo adiante. Está a milhas distante do requinte besta sem qualquer traço daquele glamour que pudesse encher os olhos de um espectador ingênuo mas ainda assim sensível. Não duvide: a vida é melhor onde pulsa sem freios. Por que então insiste em valer menos justamente onde flui com maior intensidade?

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