Monday, August 09, 2010

Montes Claros (1)

Montes Claros me fez ter saudades do frio e da mudança das estações. Saudades do limo também. Mas antes disso me abriu o leque da brasilidade intensa e variada. Mestiçagem irrecusável de seus habitantes quase sempre sorridentes e simpáticos. Tão amáveis que hoje não consigo deixar de nos ver - sulistas - como cidadãos brasileiros tristemente sisudos e desconfiados.  
Montes Claros estava lá em coordenadas recônditas e distantes, paralelos possíveis de uma mapa-múndi a ser por mim descoberto. Mundo brasileiro, terra de Darcy Ribeiro e geografia de Guimarães Rosa que Tom Jobim gostava de mencionar.
Suas ruas, bares e praças. Seus pontos de ônibus e calçadas... A alegre e calorosa recepção de pessoas que eu conhecera há tão pouco!
Do quintal aos fundos da pensão onde eu morava, dispunha meu olhar para além dos gatos que se equilibravam sobre os telhados e muros. A espera da chuva era um acontecimento mítico carregado (ao menos para mim) de leituras religiosas. Mas, ao mesmo tempo, a fala dos monte-clarenses deixava revelar um tom de tranquilidade - apenas na aparência -  conformada diante do pior sempre à espreita. E se não chovesse? A vida, ainda assim, sempre teria que seguir adiante.
E a vida, durante o tempo em que eu estive lá, sempre prosseguiu farta e animada. Falas que se sobrepõem na minha falha memória. Montes Claros tórrida e acolhedora. Norte mineiro quase baiano onde fui parar há cinco anos. E de onde, quando parti, mais do que deixar coisas de mim pra trás, trouxe muito do que hoje me constitui.

3 Comments:

Blogger Gil Maulin said...

o lugar é o que mais importa, meu amigo!

8/09/2010 11:24 PM  
Blogger Luís Filipe said...

Assino embaixo, Gil!

8/09/2010 11:40 PM  
Blogger Luís Filipe said...

Me esqueci de mencionar o Beto Guedes, outro cidadão ilustre de Montes Claros!

9/01/2010 10:47 AM  

Post a Comment

<< Home