Wednesday, May 19, 2010

urbicídios à luz do dia

(foto do viaduto Minhocão em SP, autor desconhecido)

 É claro que o assunto da falta de planejamento urbano de nossas grandes e médias cidades brasileiras é fala mais do que corrente nas bocas populares. No entanto, a realidade que se vê é bem outra. Todas as soluções propostas pelas instituições públicas e privadas de transporte urbano apontam unicamente para os automóveis - verdadeiros indivíduos e centro da existência citadina contemporânea.
Porto Alegre, por exemplo, vem se transformando em uma cidade inóspita e perigosa por conta do abandono dos espaços públicos da parte de suas autoridades e população. As pessoas caminham cada vez menos pelas calçadas, e quando andam, o fazem de forma nervosa, autômata e agressiva.
Parece que a única alternativa que passa pela cabeça dos nossos mandatários é construir mais viadutos e perimetrais (as mesmas Vias Expressas que Marshall Berman, em Tudo que é sólido desmancha no ar,  denunciava como as assassinas de tanta riqueza e maneiras urbanas de se conviver na Nova York anterior às décadas de cinquenta e sessenta)!
E todo mundo sabe que viaduto deveria ser sempre a última alternativa a ser empregada enquanto forma de desafogar o tráfego... Do contrário, é batata. No entorno deles, pouco tempo depois de sua inauguração, já se veem nitidamente os traços da decadência, abandono e vandalismo. Lugares antes agradáveis e frequentados por uma variada fauna humana, se transformam em selva de asfalto e concreto em que o desconforto e aperto na garganta são as únicas sensações possíveis aos que ainda são capazes de se impactar com a paisagem ao redor.
São Paulo, também em função de seu crescimento e tamanho assustadores, já oferece sobre si reflexões que cidades como Porto Alegre e Florianópolis não parecem muito dispostas a ouvir. Enquanto a capital paulistana, entre outras demandas, volta a especular a respeito da demolição do Minhocão, novos projetos de viadutos e Vias Expressas são aguardadas ansiosamente pelos habitantes das cidades sulistas! 
Os planejadores urbanos brasileiros além de despreparados para a função só podem estar agindo de má-fé. Construtoras e lobbies automobilísticos fazem a festa em nosso país. Os transtornos e calamidades, enquanto isso, já anunciam seu ar desagradável nos tempos a seguir.


1 Comments:

Blogger c. said...

Gosto muito das tuas cidades, Luis! Você fala delas através das cidades em que vivemos. E elas são tão humanas e tão líricas. Tão acolhedoras e calorosas! Não têm viadutos, essas coisas tortas que repelem os encontros. Mas está cheia de pontes feitas de conversas, apertos de mão e acasos de surpresas.

5/19/2010 12:44 PM  

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