Avenida Independência

Por mais megalópoles e avenidas espetaculares que eu tenha conhecido e - espero - ainda venha a conhecer ao longo da minha vida, não tem jeito: A Independência é o marco inescapável de sentimento e descoberta de cidade para mim. A se pensar no caso paradigmático de Penny Lane em Liverpool (que é tanto um bairro como uma rua), concluo sem quaisquer titubeios que nossa Independência - levando em consideração todo o seu inquestionável significado histórico e cultural - se ressente de um canto popular que lhe faça jus. Mas daí me ocorrem uma série de críticas corrosivas diante do espírito hegemônico e ao modo contemporâneo de viver a cidade dos meus demasiado humanos conterrâneos porto-alegrenses, que é melhor deixar de lado num espaço como este, o qual pretende ser, de alguma forma, a um só tempo elogioso e delicado.

Antes se conheciam as cidades em seus menores detalhes... Becos, escadarias, logradouros obscuros e números de edificações conhecidas despontavam enquanto presenças vivas no diálogo cotidiano dos habitantes das póleis modernas, de tal maneira que para ingressar no espaço comunicativo de uma realidade compartilhada, pressupunha-se do cidadão uma experiência de um repertório mínimo dos lugares através dos quais enfim se vive. E isto não tinha nada a ver com alguma suposta erudição urbano-geográfica!